Archive for the Cinema Category

Curta «O Convidado»

Posted in Cinema on 10:55 15/02 by PB Produções

Em novembro de 2011, a turma de Comunicação Audiovisual da PUCPR, especialização que estou finalizando neste primeiro semestre de 2012, realizou dois curtas, conforme noticiei na época.

Mas, estava devendo o link dos filmes.

Este é um deles: O Convidado, um curta de ficção, no qual eu fiz direção de fotografia.

Que tal ficou?

http://vimeo.com/36808115

 

Em breve, publico o outro curta.

Aguardem!

 

Por Vanda Moraes

Vá e Veja (Elem Klimov – 1985)

Posted in Cinema on 21:25 10/02 by PB Produções

Uma das melhores programações em mostras cinematográficas dos últimos tempos, em Curitiba, foi a Mostra de Cinema Soviético, realizada no final de janeiro e início de fevereiro pelo Museu Guido Viara: três Eisenstein, dois Vertov, dois Pudovkin, Djovenko, Tarkovski…

Mas, a pérola, entre todos estes clássicos, foi o longa Vá e Veja de Elem Klimov, rodado em 1985. Uma verdadeira obra de arte em sua temática e construção narrativa.

A fotografia de um colorido desbotado em grande parte do filme, contrasta momentos de pouca luminosidade e cores frias, quando a realidade cruel da personagem principal a oprime e cores vivas e contrastadas quando o mesmo soldado-menino se mostra em posse completa de sua infância e entusiasmo.

Esta diferença é bem nítida quando comparadas a sequência em que as personagens dormem em uma barraca feita de ramos de árvore na chuva fria e logo em seguida quando se divertem na mesma chuva, agora pela manhã.

É nítida, também quando comparada a sequência em que os meninos encontram a arma, logo no início do filme com a sequência em que o menino volta para casa e descobre que a mãe e as irmãs foram assassinadas pelo exército nazista, assim como toda a população da aldeia.

Outro ponto alto do filme é a utilização magistral do som para a construção de sentido e para evidenciar a confusão íntima da personagem. Quando se junta aos outros aldeões, também sobreviventes do massacre ocasionado pela guerra, o menino se encontra em estado tão alterado que a trilha sonora consiste em uma constante de sons que aumentam a dramaticidade da cena e colocam o espectador em estado de desconforto.

O filme conta a história de 38 aldeias russas, queimadas pelos nazistas,  juntamente com toda a sua população, exceto aqueles escolhidos para terem um destino, que pode ser considerado pior que a morte, como o prefeito da aldeia em quem foi jogado combustível e ateado fogo e que implorava pela morte, a senhora idosa sem condições de levantar-se da cama deixada para trás para morrer lentamente ou a mulher disputada pelos soldados alemães em um dos caminhões do exército.

Expressiva é a forma de abordagem das personagens do filme e o posicionamento do cineasta no que diz respeito às relações de guerra. Os filmes nazistas, por exemplo, exaltavam a virilidade, força e beleza dos jovens soldados alemães ao mesmo tempo em que mostravam os exércitos inimigos como fracos, efeminados e indignos de vencer a guerra.

Vá e Veja, por outro lado, evidencia a crueldade do exército nazista em seu tratamento com os prisioneiros e aldeões. O comandante é colocado como esnobe e covarde, enquanto que os soldados são beberrões e desorganizados, cujo único objetivo é a diversão em trancar a população da aldeia na igreja, atear fogo na construção e metralhar as paredes enquanto o fogo aumenta e as pessoas gritam por socorro.

Outro momento, em que é evidenciada, a forma de posicionamento nazista é no texto dito pela personagem do oficial alemão que, enquanto os outros soldados e até o general imploram por perdão, afirma que as crianças aldeãs deviam morrer porque é na infância que tudo começa e os russos não tinham o direito que sua linhagem continuasse.

O menino-soldado, que precisava encontrar uma arma para ser aceito no exército russo, é apenas uma criança em meio a seu mais terrível pesadelo. Os soldados russos, por sua vez, estão desolados com a guerra e marcham puramente para se defender da crueldade dos alemães.

Este olhar fica bastante evidente na última sequência do filme, quando os alemães são capturados e, mesmo após todas as suas ações, ganham a benevolência do exército e dos aldeões russos, que os beneficiam com uma morte rápida.

Fica mais nítida, ainda, esta ética benevolente russa, na cena em que Klimov intercala planos de toda a trajetória de Hitler (iniciando com cenas da guerra e retrocedendo até uma foto de infância no colo da mãe) com cenas do menino-soldado atirando em uma foto do líder nazista, a mesma que os aldeões eram obrigados a venerar.

Apesar de conhecer todas as crueldades de Hitler e de ter presenciado os soldados nazistas subjugando a população russa, o menino-soldado não atira no Hitler-bebê.

O filme é primorosamente elaborado em seus elementos técnicos com a exploração minuciosa da luz e do som, além de uma cenografia bem construída, qualidade esta que é recorrente no cinema russo.

Mas, seu maior mérito é a exaltação implícita pela paz, feita à medida que mostra toda a crueldade e falta de sentido de uma guerra na qual as crianças lutam e morrem sem nem ao menos saber a motivação, uma guerra na qual tudo se perde.

Por Vanda Moraes

Era uma vez no oeste – uma homenagem ao western

Posted in Cinema on 17:02 07/12 by PB Produções

Desde o início da história do cinema, inovações foram sendo feitas com a melhora constante nas tecnologias utilizadas em equipamentos tanto na captação de imagens como na exibição dos filmes nas salas de cinema.

Principalmente por isso, é possível a realização de verdadeiras obras primas como o já clássico Era Uma Vez no Oeste, do italiano Sergio Leone, um dos principais realizadores do western spaguetty.

Mais que uma história sobre as relações de homens do oeste americano, é uma poética busca e, ao mesmo tempo, a espera de cada um dos quatro personagens centrais por algo que nem todos alcançarão.

É, também, um estudo sofisticadíssimo de som a serviço da história e uma reflexão saudosista representada na morte do velho oeste e das forças humanas ou naturais que morrem com ele.

Era Uma Vez no Oeste é, ainda, uma homenagem a filmes clássicos do gênero western americano, quando referencia obras seja na temática, na forma de abordagem, na utilização de atores já consagrados no universo do faroeste ou na citação direta de cenas de filmes clássicos, principalmente, de John Ford, um dos cineastas mais importantes do gênero.

Som

Nos primeiros dez minutos do filme há apenas dois diálogos: o primeiro quando o atendente da estação ferroviária tenta vender as passagens aos pistoleiros e o segundo logo após a apresentação da personagem do Gaita, quando as falas antecipam o clima de conflito eminente que permeia todo o filme.

Com exceção destas falas, toda a sonoridade da sequência é feita de sons ambientes. O ranger agonizante do moinho, os passos dos homens no chão de madeira da estação, o barulho do telégrafo, o gotejar da água no chapéu do pistoleiro que, a medida que se enche denota a passagem de tempo, o zumbido da mosca, a respiração cansada do trem, o barulho do vento.

A exploração desta sonoridade, creditada, assim como toda a trilha sonora do filme, a Ennio Marriconi, um dos colaboradores mais assíduos de Sérgio Leone e que, recentemente, também assinou a trilha do poético A lenda do pianista do mar de Giuseppe Tornatore, já é, por si só, uma realização digna de nota.

Trata-se de um curta-metragem no qual todo o enredo, a movimentação dos atores e a passagem de tempo são dados a partir do som, sem que para isso seja utilizada música.

Mais que isso, trata-se de uma sinfonia de sons aparentemente banais, utilizados de forma inteligente para significar a espera das personagens e aumentar a tensão e a expectativa do espectador.

Contudo, este não é o único momento de utilização da música como elemento principal para contar a história.

A chegada, logo em seguida, da personagem Gaita à estação e seu encontro com os pistoleiros antecipa um recurso que será utilizado quando da apresentação de cada uma das quatro personagens centrais da obra.

Antes dos atores entrarem em cena, a música tema, que já traz em sua composição significantes que contam características, inclusive, psicológicas das personagens, antecipa esta ação.

O som da gaita-de-boca logo após a passagem do trem, que funciona como uma cortina que se abre e coloca a personagem em cena ou a música tema de Shayenne pouco antes deste entrar no bar após o tiroteio.

Em cada um destes momentos é o som que chega primeiro e diz quem será o protagonista daquela ação.

Além de apresentar as personagens, há casos em que a música antecipa o próprio desenrolar da cena, como no momento em que Gaita “vende” Chayenne para que Jill não perca o rancho Água Doce.

Neste momento, a câmera mostra a escada por onde a personagem irá descer e a musica antecipa que as botas que o espectador vê, pertencem a Shayenne.

Referências

Outro aspecto importante do filme é a referência a outras obras igualmente importantes do gênero western.

Isso acontece nas tomadas grandiosas do Monument Valley que lembram os grandes planos gerais de filmes como No tempo das Diligências, Rastros de Ódio e O Homem que matou o facínora.

Além disso, Leone utiliza atores consagrados do gênero como Henry Fonda, por exemplo, que tem no Era uma vez no oeste seu primeiro papel de vilão, já que era conhecido como o mocinho de várias obras anteriores e um dos bandidos da estação ferroviária que representou o mordomo de O homem que matou o facínora.

As referências também acontecem na recriação de cenas. Um dos exemplos é a cena em que a família se prepara para a refeição pouco antes da apresentação do personagem de Frank e o barulho do vento e das cigarras constrói a tensão pela ameaça de perigo eminente.

Em Rastros de ódio, a família também está reunida na ausência dos homens do povoado e o som introduz a ameaça que o ataque indígena representa.

A diferença é que neste o perigo é causado pelos “peles-vermelhas”, enquanto aquele traz os bandidos como responsáveis pelo massacre.

Outra diferença é que em Era uma Vez no Oeste a maldade do vilão não permite que o menino fragilizado sobreviva enquanto que em Rastros de Ódio o fato de a menina continuar viva é o elemento motor de toda a ação.

Leone relembra, ainda cenas de seus próprios filmes como no caso em que o Gaita troca Shayenne por cinco mil dólares.

Em Três Homens em Conflito, o terceiro filme da Trilogia dos Dólares, anterior a Era uma vez no Oeste, a personagem do Bom entrega o Feio à policia, para depois o resgatar e dividirem a recompensa.

Contudo, em Era uma vez no oeste não fica claro se havia uma combinação previa entre as duas personagens, apesar de que o fato de Shayenne ter morrido em decorrência de ter sido atingido por um tiro quando fugia da prisão, demonstra que Gaita não estava lá para ajudá-lo, apesar deste ter sido salvo por aquele em um momento anterior do filme quando Gaita fora preso no trem por Frank.

Além disso, o duelo final lembra, em muitos aspectos, o duelo de Três Homens em conflito.

Argumento

Muitas outras referências são feitas e muitos outros elementos desta obra poderiam ser citados como o fato de todos as personagens estarem esperando por alguma coisa ou sendo esperados por alguém ou o fato de, exceto Jill, todas as outras três personagens centrais estarem morrendo.

Pode-se citar ainda o conflito eminente entre o velho e o novo: o velho oeste representado pelos ranchos e pelas personagens, que podem ser definidas como forças da natureza, e o novo trazido pela ferrovia.

Às personagens, não resta mais além de morrerem ou irem embora, já não há espaço para elas nesta nova forma de vida civilizada que gira em torno da água e da estrada de ferro.

A única que fica é Jill por representar exatamente este novo que chega, mas parece ter feito parte daquele universo desde sempre.

Por Vanda Moraes

A arte de contar histórias através de imagens em movimento

Posted in Cinema on 16:37 07/12 by PB Produções

Em 28 de dezembro de 1995 nascia a sétima e mais completa das artes que viria a ser conhecida como Cinema, a arte de contar histórias, construir sentidos e mudar parâmetros através de imagens em movimento.

Para os cinéfilos do século XXI, ou mesmo os cidadãos leigos da forma e do sentido utilizados para fazer filmes, a técnica parece simples.

E, de fato é: trata-se de uma sequência de fotografias tiradas a uma velocidade de 24 imagens por segundo e projetadas na mesma velocidade.

A ilusão de movimento é o olho humano que se encarrega de dar e a magia acontece quando todos os sentidos, devidamente explorados pelo realizador do filme, se unem e interagem com a história apresentada.

Cinema é a arte de contar histórias através de imagens em movimento, uma das maneiras mais interessantes e sugestivas de contar uma história.

A tela traz o mundo inteiro a nossos olhos porque nela podemos ver o que se passa em qualquer parte do globo. Com isso, o Cinema vence o espaço. O passado e o presente e, às vezes, o próprio futuro estão aos nossos olhos. Com isso, o Cinema vence o tempo”. (SAMUEL, Irmão. Noções de Cinema. 1965. Editora FTD S/A. São Paulo, SP)

O envolvimento do espectador com os filmes se torna mais forte à medida que o cinema evolui. No princípio, as pessoas expostas à experiência cinematográfica se deslumbravam pela novidade que o cinema proporcionava.

Já se conhecia a fotografia e, desde os primórdios da humanidade, o homem sente a necessidade de marcar sua passagem, perpetuar suas experiências e, consequentemente, imortalizar-se, contando, pintando, escrevendo ou fotografando a própria imagem através dos fatos cotidianos ou de projeções inventadas.

Mas a “vida real” – saída dos operários da fábrica dos Irmãos Lumiére, chegada do trem à estação de Ciotat –, os fatos cotidianos de domínio público e conhecimento de todos, passados na tela deveria ser, para esta primeira audiência, algo realmente extraordinário, mesmo que pelo viés de mais uma atração das casas de jogos e shows direcionadas às classes populares.

De fato, o cinema não foi, em seus primeiros anos, considerado de igual importância a uma arte dita “superior” como a ópera e a literatura.

Muitos contribuíram para tornar o cinema possível do ponto de vista expressivo, seja tecnologicamente ou com o desenvolvimento da linguagem cinematográfica.

Alguns, como foi o caso de Griffith, canalizaram estas experiências particulares e concentraram as técnicas em obras que são consideradas fundamentais para a sétima arte, como a conhecemos hoje.

O cinema atingiu, na década de 1920, um grau muito elevado de técnica. Chegou à perfeição da busca pela representação da realidade e pelo envolvimento do espectador no classicismo norte-americano, cujo princípio era, e continua sendo em muitos casos, tornar a forma do filme “transparente”, ou seja, os filmes são filmados e montados de uma maneira que quem o assiste não percebe os cortes, a descontinuidade da ação ou os movimentos da câmera.

O espectador também evoluiu, aprendeu a ver cinema à medida que os realizadores aprenderam a fazê-lo. Mas o cinema ainda continuava mudo e se mostrava aos olhos dos espectadores em preto e branco.

Ora, mas a vida não é colorida e extremamente sonorizada?

Já nos primeiros anos do cinema, visionários como Thomas Edson, por exemplo, iniciaram experiências na tentativa de sonorizar os filmes. Mas, só no final da década de 1920 surgiu a tecnologia necessária para tornar possível “O cantor de Jazz”, primeira obra sonorizada.

A partir daí veio a cor e a melhora constante nas tecnologias utilizadas em equipamentos tanto na captação de imagens como na exibição dos filmes nas salas de cinema.  A identificação do espectador não é gratuita, depende da competência do realizador filme em introduzir elementos que, devidamente explorados, fazem com que não haja contestação por parte de quem assiste.

Por Vanda Moraes

Novos filmes estão saindo do forno

Posted in Cinema on 15:55 12/11 by PB Produções

Dois novos curta-metragens estão saindo do forno neste fim de novembro.

As produções, nas quais faço direção de fotografia, foram realizadas como parte das atividades da pós-graduação em Comunicação Audiovisual da PUCPR.

O curta «O convidado» teve sua pré-produção realizada em outubro e foi filmado no dia 2 de novembro. Após um dia de intenso trabalhp, conseguimos um bom resultado, que deve ser apresentado até o início de dezembro.

Já o curta «Fazer o certo é duvidoso» foi gravado no dia 8 de novembro e deve ser finalizado nas próximas semanas.

Novamente, agradeço aos profissionais envolvidos pela dedicação, destacando que o resultado favorável é mérito de todos os que trabalharam na produção.

Em breve vídeos e mais imagens dos filmes aqui.

Informações, também podem ser encontradas no

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.213068668764030.47575.100001826954260&type=3

Por Vanda Moraes

Animação Beijo

Posted in Cinema on 21:05 15/09 by PB Produções

O meu mais recente filme.

Foi a primeira vez que me aventurei a fazer animação.

Experiência muito empolgante.

Filme Beijo

Por Vanda Moraes

Centésimo post.

Posted in Cinema on 16:39 10/11 by PB Produções

A Perda do Sentido Político

Posted in Cinema on 16:01 03/11 by PB Produções

“Para muita gente a verdadeira perda do sentido político consiste em se juntar a uma formação partidária, submeter-se a sua regra, sua lei.

Para muita gente também quando se fala de apolitismo, fala-se antes de tudo de uma perda ou de uma ausência ideológica.

Eu não sei o que vocês pensam quanto a isso.

Para mim a perda política é antes de tudo a perda de si, a perda de sua cólera assim como a de sua doçura,

a perda de seu ódio, de sua faculdade de odiar assim como a de sua faculdade de amar,

a perda de sua imprudência assim como a de sua moderação,

a perda de um excesso assim como a perda de uma medida, a perda da loucura, de sua ingenuidade,

a perda de sua coragem como a de sua covardia, a de seu terror diante de tudo assim como a de sua confiança,

a perda de suas lágrimas assim como a de seu prazer.

É isso o que eu penso.”

(Marguerite Duras, «La perte politique», Cahiers du Cinéma nº 312-313, junho de 1980).

Posted in Cinema, Reflexões on 22:41 05/07 by PB Produções

«… Que essa minha vontade de ir embora se tranforme na calma e na paz que eu tanto mereço,

que esta tensão que me corrói por dentro seja, um dia, compensada;

porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão…»

Porquês

Posted in Cinema on 16:24 14/04 by PB Produções

Porque Cinema? Estudar e realizar filmes ao invés de apenas vê-los? Porque estudar a fotografia? Porque estudar a fotografia cinematográfica em Cuba?

“Cinema é a arte de contar histórias através de imagens em movimento, uma das maneiras mais interessantes e sugestivas de contar uma história. A tela traz o mundo inteiro a nossos olhos porque nela podemos ver o que se passa em qualquer parte do globo. Com o isso, o Cinema vence o espaço. O passado e o presente e às vezes o próprio futuro estão aos nossos olhos. Com isso, o Cinema vence o tempo”. (SAMUEL, Irmão. Noções de Cinema. 1965. Editora FTD S/A. São Paulo, SP)

A minha maior paixão, desde a mais tenra idade, é ouvir e contar histórias, sejam elas verdadeiras ou não. Quando criança, meu mundo era repleto de seres fantásticos e, por vezes, irreais. Com o passar do tempo, as novas experiências e a maturidade me proporcionaram transformar o simples prazer infantil em profissão. Com o espírito livre e aventureiro de um contador de histórias, repórter de fatos e experiências, ingressei na faculdade de jornalismo. A felicidade e a realização vieram, de fato, quando descobri que fazer filmes, além de velos, era algo, apesar de mágico, possível, palpável até.

O Cinema, a sétima e mais completa das artes, e dom e a técnica de contar histórias através de imagens em movimento, a arte de desenhar através da luz. Cinema, arte poderosa, o mais poderoso instrumento que o mundo já conheceu, a essência da ilusão a serviço da comunicação humana. É persuasivo, emocionante, arrebatador, provoca entusiasmo e fanatiza.

O Cinema é capaz de trazer a tona assuntos polêmicos e relevantes, teoriza sobre os meandros da psicologia humana, constrói e pode destruir heróis e ideologias. Fortalece estas mesmas ideologias, cria conceitos e forma tendências morais, religiosas e comportamentais. Na maioria das vezes, o Cinema (ou a imagem a serviço de uma história) representa o primeiro contato do indivíduo com as artes. É, psicologicamente, a forma de expressão mais fácil de ser assimilada e, em todas as suas instancias, universal.

Os primeiros filmes com os quais tive contato, a exemplo de muitas crianças da minha geração, foram os desenhos animados de Walt Disney: o mundo maravilhoso e encantado dos contos de fadas, onde todos os problemas são resolvidos e os bons sempre vencem. Depois destas primeiras experiências, esta forma de sentir o cinema nunca me abandonou. Filmes realistas como Um dia de cão dirigido por Robert Lumet e estrelado magnificamente por Al Pacino, são surpreendentes em seu poder de levar o mais frio dos expectadores às lágrimas.

Mas, como não se envolver emocionalmente com filmes fantásticos cujos personagens são tão irreais que se tornam absurdamente humanos como aquele representado por Arnold Schwarzenegger, em O Exterminador do Futuro, ou os vampiros criados por Brad Pitt e Tom Cruise em Entrevista com vampiro? Da mesma maneira, como é possível não sentir um misto de carinho e respeito pela atitude redentora do psicopata Hannibal quando este corta o próprio pulso para não ferir a pseudo-amada Clarice? Nem, tampouco é possível deixar de acreditar que Harry Potter pode vencer Aquele Que Não Deve Ser Nomeado e Frodo Bolseiro levará, sim, o anel até as fendas da perdição, apesar de sua constatada fragilidade e inferioridade diante de tantos guerreiros mais qualificados e tantos perigos aterrorizadores.

Todo este enredo muito bem acompanhado de uma trilha sonora marcante e original. Lágrimas e sensação de um amor eterno possível toda vez que soam os acordes do tema de Titanic, Outono em Nova York ou Ghost, do Outro Lado da Vida. Terror quando a trilha foi usada em filmes como Psicose, O Exorcista, O Sexto Sentido ou o atual Atividade Paranormal, suspense com a música de Tubarão, uma sensação longínqua de algo bom e antigo por vezes quase esquecido com o som de No Tempo das Diligências, Era Uma Vez no Oeste e Dança com Lobos.

Se a música marca gerações, relacionamentos e momentos mais variados da vida dos expectadores, um bom roteiro com diálogos bem construídos se impõe no vocabulário popular. Frases como I see dead people, dita pelo menino com habilidades mediúnicas em O Sexto Sentido, Amei meu filho do momento em que ele abriu os olhos até o momento que você os fechou, um dos momentos mais emocionantes de Tróia, Homens realmente grandes não nascem grandes, tornam-se grandes, dita em O Poderoso Chefão ou Você me olha de um jeito… que eu ainda não fiz por merecer!, do já citado Outono em Nova York, são, simplesmente obvias, mas de uma intensidade única que não permite que sejam esquecidas.

Todos os detalhes de um filme são importantes, nenhuma decisão é menos relevante para o resultado final que chegará aos cinemas, às telas de televisão, que emocionarão milhares de pessoas espalhadas pelo mundo no caso dos blockbusters ou levarão ás lágrimas 450 pessoas de um pequenos cinema de rua que foram até ali para ver um filme onde o teor artístico está em primeiro lugar. Um dos conceitos mais verdadeiros da processo de produção de um filme foi dito e vêm sendo repetido por muitos realizadores: cada área (fotografia, som, roteiro, direção, edição, etc) representa 50% de um filme. Logo se uma destas partes não funcionar, 50% do todo estará comprometido. Mas a fotografia representa a parte mais impressionante.

A imagem é a essência do cinema e, nela, todos os detalhes devem estar a serviço da história. É o diretor de fotografia que imprime no filme os tons que trazem sensação de envelhecido, os tons vibrantes da felicidade, modernidade e euforia, os tons cinza da melancolia ou os tons frios da tristeza. Aliado á cor, o foco evidencia um aspecto da cena ou do personagem, as lentes aproximam ou distanciam a ação, fundem ou destacam o décor de uma imagem de acordo com as necessidades do filme. Estes são alguns dos elementos que, de forma aparentemente sobrenatural, mas permeado de muito trabalho e técnica, são capazes de fazer um retrato do real a partir do olhar de uma equipe de artistas amantes da sétima arte.

Estudar estes processos de forma alguma faz com que o assistir a um bom filme exerça menos fascínio. Ao contrário, o conhecimento da técnica permite que o olhar mais apurado perceba detalhes relevantes que de outra forma, passariam despercebidos, apesar da entrega de corpo e alma frente á história aconteça com a mesma intensidade, agora com uma percepção mais rica e completa.

Porém, não se estuda algo pelo qual se é apaixonado de qualquer forma, nem com um mestre qualquer. Há que se estudar com os melhores, na melhor escola que esteja ao seu alcance. A EICTV é uma das, se não a mais, conceituadas escolas de Cinema da América Latina. E, caso este fato não baste para que os aficionados pela sétima arte deixem suas famílias, amigos e países, Cuba representa o último reduto de uma filosofia em extinção.

Lá, o capitalismo, que torna homens e obras de arte em simples produtos mercadológicos, sistema prático de obtenção de lucro onde o talento é contado em dólares, baseado na quantidade de vezes que um determinado produto aparece nas capas de revistas, parece estar um tanto distante, apesar deste país já não ser a “Meca” do socialismo, posto que ocupou durante quase meio século. Apesar disso, Cuba viveu a filosofia na qual muitos acreditaram, pela qual muitos outros morreram e muitas vidas e lutas se basearam.

Vestígios de numa realidade tão rica de experiências únicas como esta não podem ser facilmente extintos. Cinema é a arte que possibilita ao indivíduo viver em um mundo maravilhoso, fantástico e, mesmo assim, possível. Cuba, representou e ainda representa este lugar para muitos de nós que lutamos, perdemos, vencemos, aprendemos, enfim, endurecemos sem, tampouco, termos perdido a ternura.

Por Vanda Moraes